sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Como são avaliados os astrônomos?


Os cientistas são geralmente avaliados pelo numero de artigos e de citações, mas outros fatores também deveriam ser levados em conta.

Por Elvis Cantelli, aluno de Divulgação em Astronomia no IAG/USP


Ao lermos uma matéria sobre ciência, em geral não temos uma idéia sobre o pesquisador e como ele se encaixa no meio académico. Porém, entre seus pares, o cientista está sendo analisado e classificado constantemente, para fins de financiamento ou afim de que sua instituição seja avaliada, ou para o conceito de seus cursos de pós­ graduação, entre outros.

Um pesquisador tem como objetivo principal produzir conhecimento e fazer com que este chegue até outros cientistas (idealmente esse conhecimento deveria chegar também ao publico em geral de maneira didática). Para tanto, é necessário que ele publique suas análises e descobertas em periódicos científicos, arbitrados por outros pesquisadores que verificam o método e a validade do trabalho. Em tese, quanto mais um cientista publica, mais ele está gerando ciência, e o número de publicações é usado para avaliar a “produtividade” do pesquisador. 

Mas essas publicações estão gerando impacto? Isso pode ser avaliado usando as citações dos artigos. Quanto mais um artigo é citado, maior é seu impacto na comunidade científica, ou seja, a publicação está se mostrando útil para a geração de mais conhecimento. A partir disso, podemos avaliar um pesquisador pelo seu índice de impacto, ou como chamamos, índice­-h. Funciona assim: suponhamos que um pesquisador tenha um índice-h de 27. Isto significa que ele tem pelo menos 27 artigos com no mínimo 27 citações cada. Se pararmos para pensar, não é justo comparar um cientista que acabou de ser contratado por uma universidade com outro que já é professor há muitos anos. Para isso existe o índice­-m, onde normalizamos (dividimos) o índice­-h pelo número de anos que o pesquisador está ativo (anos desde sua primeira publicação). O índice-m de astrônomos da Univ. São Paulo (IAG/USP) e da Universidad de Buenos Aires (IAFE), é comparado em matéria de Viviana Marquez, que mostra que os professores de Astronomia de ambas universidades têm impacto similar.

Um cientista pouco "produtivo" (com poucos artigos), pode ter um impacto muito alto na ciência (muitas citações, ou alto índice-m), não necessariamente obedecendo a regra de produtividade imposta pelas agencias de fomento. Esta política do publish or perishexpressão em inglês para publique ou pereça, costuma incentivar uma prática conhecida como “ciência salame”, em que o pesquisador literalmente fatia o seu trabalho em vários artigos, afim de aumentar seu numero de publicações. Porem a situação é mais complexa. Por exemplo, para obter financiamento ou tempo de observação, é necessário mostrar resultados anteriores que justifiquem o pedido, incentivando a publicação de artigos. Outro aspecto a ser considerado é o tempo que demora uma publicação; se demorar demais, outro grupo pode ser o primeiro a realizar a descoberta, ou a demora pode prejudicar os alunos de pós-graduação, pois é necessário publicar no mínimo 1 artigo como primeiro/a autor/a para conseguir o título de doutor.


Porém, apenas as citações não são suficientes para avaliarmos a qualidade de um docente. Por exemplo, nas universidades temos que o ensino é de suma importância, e mesmo que alguns pesquisadores possuam baixo nível de produtividade científica, podem ministrar excelentes cursos, que no final contribui mais em um contexto da formação acadêmica dos estudantes. Por outro lado, o cientista pode ter menor produtividade na publicação de artigos, mas talvez tem maior impacto em outras áreas tais como a divulgação científica, que é de importância fundamental para transmitir o conhecimento científico para o público em geral.

sábado, 1 de novembro de 2014

Brasil investe pouco em ciência e tecnologia

Recente matéria na Folha de São Paulo mostra que a ciência brasileira avançou consideravelmente nos últimos 20 anos no número de trabalhos científicos publicados. Porem, como veremos a seguir, os investimentos do país ainda estão muito aquém de outros países.

Para estudar o nível de investimentos do Brasil para o seu PIB (produto interno bruto), usei os dados do número de estudos publicados por diversos países em 2013 segundo a Folha, e o PIB de 2013 (já corrigido pela paridade de poder de compra) segundo dados do Banco Mundial.

A comparação é mostrada na figura a seguir, onde a linha representa o comportamento aproximado dos países desenvolvidos. Como podemos apreciar, o Brasil está bem abaixo dessa linha, ou seja, para o seu PIB o Brasil publica muito menos do que países desenvolvidos. Embora seja verdade que o Brasil tem melhorado nos últimos 20 anos, certamente o Brasil precisa investir muito mais em ciência e tecnologia para sair do subdesenvolvimento.

Número de trabalhos científicos publicados por diversos países em função do PIB (corrigido pela paridade de poder de compra), usando dados para o ano 2013 da Folha de São Paulo e Banco Mundial. (c) Jorge Meléndez. 
Podemos conferir que o Brasil de fato está investindo muito pouco usando dados do worldbank sobre a porcentagem do PIB que os países investem em ciência, como mostrado na Figura a seguir. O Brasil investe apenas 1,2% do seu PIB em ciência, enquanto que países desenvolvidos investem tipicamente 2-3% do seu PIB.

Investimento em ciência em porcentagem do PIB, usando dados do worldbank. Brasil somente investe em ciência 1,2% do seu PIB. (c) Jorge Meléndez
Segundo as comparações acima, o Brasil precisaria pelo menos duplicar o seu investimento em ciência e tecnologia para ter uma performance parecida à dos países desenvolvidos. Em Astronomia, o Brasil deveria se associar ao European Southern Observatory (ESO). Infelizmente alguns cientistas pensam pequeno e acham que o Brasil não deveria investir em grandes projetos de ciência e tecnologia. Precisamos de pessoas com visão, com coragem de investir pesado em C&T. Temos que pensar em grande, para um dia chegar a ser uma grande nação.