Por Victoria Pardinho, Giovani Vicentin e Rafael Ishida, alunos do Prof. Dr. Jorge Meléndez
O que acontece no interior do Sol e de outras estrelas para que elas continuem irradiando sua luz para nós dia após dia?
Todo o processo, que levou
a essa importante descoberta acerca das estrelas, começou
em 1666, quando Isaac Newton descobriu que é possível separar as cores da luz
solar passando-a através de um prisma. Quando essa “luz dividida” é projetada em um anteparo, temos a
formação do que chamamos de espectro. O arco-íris é um exemplo de espectro
natural, sendo que as gotas de chuva atuam com um prisma. As cores espectrais
resultantes percebidas são vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e
violeta. A percepção de diferentes cores se deve ao fato cada uma corresponder
a um específico comprimento de onda, sendo o vermelho correspondente ao maior
comprimento de onda e o azul ao menor.
No início do século 19,
Joseph Fraunhofer, um óptico alemão, que desenvolvia diversos instrumentos
ópticos e realizava experimentos com diferentes fontes de luz para produzir
artificialmente particulares cores, notou que o espectro do Sol contém linhas escuras
de intensidades variáveis em específicos comprimentos de ondas. Então,
Fraunhofer começou a catalogar essas linhas verticais e seus comprimentos de
ondas, identificando cerca de 500 linhas espectrais, tendo sido designadas com
as letras de A a K as linhas mais fortes. Apesar de não conseguir
explicar sua origem, ele provou que essas linhas eram uma característica do
espectro solar, já que as mesmas apareciam nos espectros da Lua e de outros
planetas, que refletem a luz do Sol. Hoje, tais linhas são denominadas de
Linhas de Fraunhofer e são muito importantes para a espectroscopia.
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Exemplo de um espectro com as suas respectivas "linhas escuras", as linhas de Fraunhofer. Fonte: imagem do Wikpédia. Disponível em: https://en.m.wikipedia.org/wiki/File:Fraunhofer_lines.svg ; Acesso em outubro de 2016. |
Foi Gustav Kirchhoff,
juntamente com o químico Robert Bunsen, quem demonstrou experimentalmente a
causa de tais linhas escuras. Eles mostraram que o espectro de alguns gases e
metais aquecidos possuem linhas brilhantes que apareciam exatamente no mesmo
comprimento de onda das linhas escuras encontradas por Fraunhofer, deduzindo-se
assim que o espectro do Sol é atribuído à absorção da luz por elementos
químicos presentes na atmosfera solar. Reunindo suas descobertas com o
conhecimento de trabalhos realizados anteriormente por outros cientistas,
Kirchhoff formulou regras sobre os tipos de espectros: o contínuo, isto é, sem
linhas; o de absorção, resultante da absorção de fótons por átomos de um gás
frio quando a luz passa pelo mesmo; e o espectro de emissão, que é produzido
por fótons emitidos por um gás excitado.
No final do século 19 e
início do 20, as atenções se voltavam para o mundo que não podemos enxergar: o
microcosmos. Max Planck, físico alemão, iniciou essa nova linha de pesquisas
com o estudo das radiações de “corpo negro”, um objeto totalmente opaco que
emite e absorve perfeitamente a radiação. Em 1900, Planck publicou a teoria dos
quanta, que afirmava que a transferência de energia é realizada por “quantidades”
bem definidas: o quantum. Seguindo o trabalho de
Planck, Albert Einstein mostrou que ondas eletromagnéticas (radiação) também
poderiam ser descritas como partículas. Mais do que isso, ele demonstrou que
sua teoria concordava com os dados experimentais do “efeito fotoelétrico”, que
é a emissão de elétrons por materiais sujeitos a radiação com uma determinada
energia. Por causa da descrição desse fenômeno, Einstein recebeu em 1921
o Prêmio Nobel de física, além de ser capaz de fornecer a primeira prova
indireta da existência de átomos, cuja exata natureza permanecia desconhecida.
Em 1913, um novo passo para e desbravamento da natureza atômica foi dado
quando Niels Böhr introduziu um novo e sofisticado modelo para o átomo. Combinando
o modelo atômico já proposto por Ernest Rutherford, em 1911, com a teoria dos quanta de Planck, Böhr montou um modelo no
qual elétrons carregados negativamente orbitam o núcleo atômico carregado
positivamente. Segundo esse modelo, a cada “órbita” (hoje chamadas de níveis de
energia) há um valor de energia correspondente, de modo que elas são capazes de
comportar um número limitado de elétrons. Esses elétrons podem mudar de órbita
ganhando e perdendo energia, ao, respectivamente, absorver e emitir fótons, partículas
elementares que não possuem massa e se propagam na velocidade da luz. A partir desse modelo e
dos estudos mais aprofundados da luz e sua interação com a matéria (realizados
principalmente por James Clerk Maxwell), abriu-se as portas para uma nova área
da física: a mecânica quântica.
No início do século 20, apesar dos
grandes avanços na física quanto na astronomia, a questão da fonte de energia das estrelas continuava em aberto. Havia propostas,
mas nenhuma delas parecia plausível o suficiente. O que realmente engrenou o
estudo da energia das estrelas foi o crescimento da física nuclear.
Até
1907, hipóteses como o colapso gravitacional, conversão de energia potencial em
radiação e processos químicos já haviam sido descartados. Foi então que
o físico inglês Arthur Eddington propôs uma nova solução para a questão.
Familiarizado com os trabalhos de Einstein sobre a equivalência de massa e
energia, a tese de Eddington explana que quando dois hidrogênios se combinam
para formar um hélio, a maior parte da energia de ligação é liberada, já que
dois hidrogênios são mais pesados do que um hélio. Apesar de esta ser a
verdadeira resposta, a comunidade científica não aprovou de imediato a ideia de
uma fusão nuclear. Afinal de contas, os cientistas da época não conseguiam
conceber a fusão de duas partículas positivas, muito menos a existência da
grande quantidade de hidrogênio e hélio no Sol. Mas mesmo assim, Eddington não
desistiu de suas ideias. A
confirmação do trabalho do físico inglês veio com os estudos de George
Gamov, físico russo que apresentou o conceito de tunelamento quântico para
explicar o decaimento de partículas alfa de átomos radioativos. Aplicando esse
conceito às ideias de Eddington, foi mostrado que a fusão nuclear era realmente
possível. Apesar disso, muitas questões ainda precisavam ser respondidas.
Em 1938, a alemão Carl Friedrich
von Weizsacker propôs o primeiro mecanismo concreto para a fusão do hidrogênio.
Através do chamado ciclo CNO (Carbono-Nitrogênio-Oxigênio), ele pode incluir a
transformação de hidrogênio em hélio como parte de um sistema de reações em
cadeia, que envolve esses elementos. Paralelamente, o americano Hans Bethe,
buscando solucionar o problema da repulsão entre dois núcleos de hidrogênio,
inseriu o deutério (um próton e um nêutron) em suas análises, e conseguiu
chegar a uma cadeia de reações que não envolvesse outros elementos, o hoje
chamado ciclo p-p (próton-próton). A importância dos trabalhos de Bethe lhe
rendeu o Prêmio Nobel de física em 1967. Ambas as teses se mostraram
promissoras, sendo confirmadas nos próximos anos, dando início à astrofísica
nuclear.
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