quinta-feira, 27 de julho de 2017

A Via Láctea

Por Rafael Hideki Ishida, aluno do Prof. Dr. Jorge Meléndez

Nossa morada no Universo


Dependendo de onde estivermos, o céu noturno pode se apresentar de diferentes maneiras. No meio de uma cidade, por exemplo, a intensa iluminação impede que vejamos muitas estrelas. Já em locais mais afastados, como no campo, podemos identificar diversas constelações no céu. Agora, se não tivéssemos iluminação alguma, poderíamos observar o mesmo céu que as civilizações antigas observavam. Em especial, observaríamos algo muito interessante no céu: nossa morada no Universo, a Via Láctea.

Bom, na verdade, parte da Via Láctea. Quando procuramos imagens da nossa galáxia pela internet, encontramos diversas imagens de corpos com formatos espirais. Estas são imagens de como nós imaginamos ser a Galáxia. Estando dentro dela, somos limitados a vermos apenas uma região da Via Láctea. Região que justamente dá nome a ela. Através de sua mitologia, os gregos explicavam que a parte da galáxia que observamos no céu é o leite derramado dos seios da deusa Hera. Por isso o nome "caminho de leite", Via Láctea em grego. 

Parte da Via Láctea observada no Hemisfério Sul. Fonte: Gabor Furesz.

Da mesma forma que os primeiros navegadores tinham dificuldades para navegar pelos mares sem um mapa da Terra, os astrônomos encontram obstáculos em estudar a Via Láctea. Hoje em dia, com toda a tecnologia de satélites, todo esse trabalho se facilita; basicamente nós podemos tirar uma foto da Terra e pronto. Contudo, os astrônomos não podem simplesmente sair da Galáxia para ir tirar uma foto panorâmica. Por isso, tornou-se necessário outra solução para entendermos melhor o lugar em que moramos. Observar outras galáxias é uma delas. Ao longo dos anos, pesquisas mostraram que Andrômeda, nossa galáxia vizinha, tem características muito parecidas com a nossa. Hoje, sabemos que a Via Láctea é classificada como uma galáxia espiral. A região que observamos no céu é parte de um de seus braços, que são basicamente compostos de gás hidrogênio.

Estruturalmente dividimos a nossa galáxia em três partes. A região central é denominada de bojo e apresenta uma densidade de estrelas muito alta, de modo a ser a parte mais brilhante da Via Láctea. Os braços em espiral formam o disco galáctico, com cerca de cem mil anos-luz de diâmetro e mil anos-luz de espessura (1 ano-luz equivale aproximadamente a 9,5 trilhões de quilômetros). Estudos recentes apontam que os braços da nossa galáxia originam-se de uma espécie de "barra", que atravessa diametralmente o disco galáctico. Além disso, na região mais central do bojo, acredita-se existir um buraco negro supermassivo, com cerca de 4 milhões de massa solar. Por fim, nós temos o halo. Apesar das imagens de galáxias sempre mostrarem apenas o disco e o bojo, os limites das galáxias estão muito além dessas partes. O halo é toda região que envolve o disco e possui um formato aproximadamente esférico. Nosso Sol e todo o Sistema Solar está localizado a 26 mil anos-luz do centro da Galáxia, no chamado braço de Órion - Cygnus. Assim como a Terra gira entorno do Sol, o Sistema Solar também orbita o bojo, junto do braço, com uma velocidade de 220 km/s. Isto significa que o Sol completa uma volta pela Galáxia a cada 250 milhões de anos. Esta informação nos permite concluir que, na última vez que a Terra passou por esta mesma posição, os dinossauros ainda caminhavam por aqui.

Representação da Via Láctea e seus braços. Fonte:  R. Hurt (SSC), JPL-Caltech, Nasa.

A composição da Via Láctea não é homogênea. Uma visão geral da nossa galáxia nos indica uma concentração de gás e poeira interestelar na região do disco. Da mesma forma, grande parte das estrelas jovens são encontradas nessa região, justamente por ser um local de formação estelar. Essas estrelas também são encontradas no bojo galáctico, mas aqui a predominância é de estrelas velhas. No halo, quase não encontramos gás ou poeira. As estrelas também são poucas, encontradas principalmente nos aglomerados globulares, regiões que concentram estrelas mais velhas, que orbitam o centro galáctico. Apesar disso, o halo é a região mais massiva de toda a galáxia. Mas quem seria responsável por toda essa massa? É nesse ponto que entra a matéria escura. Através de análises gravitacionais, percebeu-se que a galáxia deveria possuir muito mais massa do que podemos observar. A matéria escura foi introduzida para explicar essa diferença. Pouco sabemos ainda sobre ela, pois não pode ser observada; apenas podemos inferir a existência de matéria escura a partir do seu efeito gravitacional.

Estruturas da Via Láctea. Fonte: Adaptado - FREBEL, Anna; Searching for the Oldest Stars, 2015, p. 137.

Nenhum comentário:

Postar um comentário